segunda-feira, 21 de abril de 2008

Saiba porque quem muito opina vira ameba

É curioso como as pessoas preferem enviar mensagens de e-mail sobre os textos daqui, à fazer comentários no próprio blog.

Vou tentar, então, responder a três questionamentos que me foram feitos:


1. Inicialmente, não citei Ghandi e Luther King por causa da ideologia de cada um. De forma alguma! Eu os mencionei simplesmente para exemplificar, através de duas pessoas conhecidas, que se pode ser pacífico sem ser passivo.

2. Quem insinuou que eu seria “contra as opiniões alheias” (para supostamente defender as minhas), errou totalmente o alvo!
Sou também contra as opiniões que eu eventualmente tenha. E justifico isso com base na conhecida frase: “o homem é a medida de todas as coisas”.

Se assim fosse (o homem sendo a medida de todas as coisas), cada um de nós seria o juiz daquilo que é (e daquilo que não é)!

E esse relativismo é uma das maiores pragas do mundo moderno, ancorando-se justamente nas opiniões (ao afirmar que aquilo que parece verdadeiro para alguém é, então, verdadeiro para essa pessoa).

Mas, pense comigo: se fossem verdadeiras todas as opiniões mantidas por qualquer pessoa, então seria preciso sempre reconhecer a verdade da opinião do oponente. E como ficaria, nessa situação, se o oponente considerasse que o relativismo é falso?

Ou seja, se o relativismo é verdadeiro, então ele é falso (desde que alguém o considere falso)! Chega-se assim, portanto, a uma auto-refutação (ou a uma autodestruição) do relativismo.

Atualmente, as pessoas entendem que quaisquer opiniões são igualmente justificáveis, dadas suas respectivas regras de evidência, e que não há questão objetiva sobre qual conjunto de regras deve ser preferido (isso é denominado “tese da equipolência das razões”).

Resumindo, seria possível oferecer boas razões tanto para se admitir quanto para se recusar qualquer opinião!

Conseqüentemente, o procedimento de dar boas razões nunca permite decidir entre opiniões rivais, nunca nos obriga a substituir uma crença por outra. E isso é um grande absurdo, pois veja:

Se toda regra de evidência é tão boa quanto qualquer outra, então para que uma opinião qualquer seja tomada como justificada basta formular um conjunto apropriado de regras em relação ao qual ela está justificada. Em particular, a opinião de que nem toda regra de evidência é tão boa quanto qualquer outra deve poder ser igualmente justificada.

E o relativista, assim, não consegue mostrar (mas deveria!) que a sua posição é melhor que a de seu oponente.

Uma alternativa seria dizer que algumas regras de evidência são melhores do que outras; mas então deveria haver fatos independentes de perspectiva sobre o que as torna melhores do que outras, e nesse caso estaríamos assumindo a falsidade do relativismo.

Concluindo, sem opinar: devemos fugir das opiniões, pois elas nos conduzem ao perigo desse relativismo que, aos poucos, vai esmagando as nossas crenças e pisoteando as nossas iniciativas.

3. A quem disse que o problema está "no excesso de obrigações", tentou explicar, mas não justificou! Somos donos do nosso próprio nariz e responsáveis pelo que fazemos com o nosso dia a dia. E se não formos, deveríamos sê-lo, pois do contrário, viramos homens-amebas. E esses seres são hoje tão comuns que já há até uma logomarca para identificá-los (não é piada!):

Homem-ameba




3 comentários:

Unknown disse...

Marcos, não tentei explicar e nem justificar, apenas dei minha opinião. Comecei a frase com "..creio..", denotando que é algo subjetivo e pessoal. Portanto reflito o meu próprio pensamento e não acho que ele deva servir para alguém mais do que a mim mesmo. Ainda assim decidi compartilhá-lo (talvez eu seja uma ameba em evolução). Agora, se o objetivo do blog é achar repostas, e não colher opiniões e pontos de vista, então vai ter pouca gente mesmo comentando alguns posts, já que muitas questões aqui levantadas não são de respostas fáceis e possuem uma profundidade que poucos alcançam...

Marcos de Lacerda Pessoa disse...

Luiz

Não sei quem você é, porque tenho vários amigos e conhecidos com esse nome; e você não colocou o seu sobrenome nos comentários que fez.

Obrigado por comentar neste blog que, como você já percebeu e assinalou, é realmente muito pouco comentado.

Não há razão, Luiz, para você ficar na defensiva, pois estamos discutindo no planos das idéias, e não no plano pessoal (até porque isso seria impossível, posto que não o conheço ou não o identifico somente pelo seu primeiro nome).

Você diz "não tentei explicar e nem justificar, apenas dei minha opinião".

Veja que este post (e o anterior) é exatamente sobre isso: as opiniões.

Não que não se possa opinar, mas há que se ter o cuidado para que não se entre no relativismo, já explicado.

O perigoso é exatamente o "subjetivo e pessoal", que você coloca nesse seu último comentário.

Humildemente, e com os melhores propósitos possíveis, permita-me sugerir que você leia novamente os meus dois últimos posts, que tratam do relativismo cognitivo.

Adoraria discutir isso com você; mas não no plano das opiniões!

Objetiva e verdadeiramente agradecido, receba as minhas cordiais saudações.

Marcos

Unknown disse...

Marcos, reli os textos e não adicionou maior entendimento do que o inicial, infelizmente.

De fato, entendo que considerar toda opinião como válida, partindo-se de que toda opinião é baseada num conjunto de regras próprias, válidas em seu universo, é considerar que qualquer proposição é assim verdadeira, mesmo que sejam idéias opostas.

Ainda assim, e mesmo por isso, não consigo entender como posso expressar um pensamento sem que este seja de fato uma opinião, dado que não conheço um tal conjunto objetivo de regras. Seria presunção minha não classificar o que penso como "opinião" já que não sinto que minhas regras sejam objetivas. "Minhas regras" serão sempre subjetivas porquê são baseadas em minhas crenças, experiências pessoais e modelos mentais. É obvio que eu não detenho a verdade, a não ser aquelas em que acredito.

Se entendi o seu texto: dar opiniões simplesmente para estar "inserido", sem base além do achismo, é o mesmo que não opinar, ou até pior. Por outro lado, emprestando sua metáfora da ameba, não opinar pode significar que nem se chegou ao estágio de ameba. Considero mesmo a ameba uma evolução, neste caso. De outro modo, quem já passou deste estágio evolutivo talvez se abstenha de expressar seu pensamento por já ter consciência de que não detém um conjunto de regras objetivas que o permita expressar algo além do que mera opnião.

Por isso tudo, percebo que algumas de suas colocações e pensamentos instigam muitos leitores de um modo talvez tão profundo que, ou não alcançam a totalidade do significado (e por isso não respondem) ou, entendendo sua profundidade, percebem que não dispõem de condições para respondê-las da forma que merecem, abstendo-se de fazê-lo.

Assim, me parece que a sobrevivência de um blog plural e participativo está atrelada aos amebas, já que posts de "supra-amebas" são raros e de "infra-amebas" inexistem. A esperança é que as amebas ainda podem evoluir, se forçadas a isso, e francamente, acho que você está cumprindo este papel. Não nos deixe morrer como amebas....