sábado, 28 de junho de 2008

Marciano


Um senhor, de nome Marciano, todos os dias ía visitar uma casa de recuperação de jovens dependentes químicos.

Ele entrava na mesma hora, às seis da tarde, sempre com um papel na mão. Sentava-se em um canto da sala, e dizia a todos os sete jovens da casa (mas sem olhar para nenhum deles em particular), que iria ler para eles um texto que ele havia escrito.

A cada dia, um novo assunto. Eram textos sobre temas diversos como coragem, amor, esperança, persistência, fé...

Ao terminar a leitura, ele levantava da cadeira, deixava o papel em um mesinha próxima, e fazia uma despedida geral com um leve sorriso e um... - "Até amanhã!".

Um certo dia, decidi entrar naquele lar de jovens, pois a visita fazia parte de um projeto acadêmico do qual que eu participava. Foi bem na hora em que Marciano estava chegando. Vi toda aquela cena, que chamou muito a minha atenção. Quando Marciano saiu, perguntei à Diretora do lar, quem era aquele senhor. Ela disse que sabia pouco, além do nome dele. E me contou que ele fazia aquilo há mais de dois anos, diariamente, sem perder ao menos um domingo, nem mesmo um feriado sequer. E me disse, ainda, que sentia muita pena daquele senhor, pois os jovens não prestavam atenção naquilo e simplesmente o ignoravam.

Um certo dia, porém, Marciano não apareceu. Já eram seis e meia da tarde, quando um dos jovens, após olhar para o relógio, comentou com os demais: - "Será que ele não vem?". Dez minutos depois, outro dos rapazes disse: - "Pode ter acontecido alguma coisa!...". Logo em seguida, todos decidiram que a ausência de Marciano, naquele dia, deveria ser imediatamente relatada à Diretora. E assim o fizeram.

- "Mas nem mesmo sabemos o que ele faz, ou onde ele mora!", disse a Diretora. Nisso, João Pedro, o mais moço da casa, pega uma pasta contendo os inúmeros os papéis, com todas as histórias de Marciano, que ele havia guardado.

- "Lembro que tinha o endereço dele em uma das histórias...". E, logo em seguida: - "Aqui está, eis o endereço, vamos até lá, Diretora, por favor!".

Imediatamente, a Diretora e os sete rapazes entraram na caminhonete do lar e foram procurar aquele endereço. Era uma casa simples, toda amarela e de telhado bem vermelho. Bateram a campaínha, mas não houve resposta. Um dos rapazes, então, tentou o trinco da porta, e verificou que ela estava aberta.

Sem vacilar, decidiram entrar na casa. Era muito pequena, apenas com um quarto, uma pequena sala, um banheiro e uma cozinha. E, à mesa da cozinha, lá estava Marciano, com a caneta na mão e o rosto deitado sobre a página de um novo texto.

- "Seu Marciano!", disse um dos rapazes. Mas logo verificaram que ele já não responderia mais. Marciano havia morrido. E, muito provavelmente, da maneira como gostaria: escrevendo um de seus textos dedicados àqueles moços.

Um dos jovens, então, decidiu ler o que Marciano estava escrevendo naquele dia.

O texto chamava-se "Os meus sete anjos". Eis um trecho:

Amo-os profundamente, e sei que vocês são excelentes pessoas. Sinto isso. Vejo isso nos olhos de cada um de vocês. Tornaram-se viciados, sim, porém não por culpa de vocês, mas pelas duras circunstâncias da vida. Parecem ignorar o que lhes leio, mas isso não me importa nem um pouco, pois sei que, no fundo de suas almas, vocês são excelentes pessoas. Pessoas tão jovens e que já foram tão massacradas por uma vida que, nem sempre, é tão justa como desejaríamos. Mas mesmo sem saber os seus nomes, rezo sempre por cada um de vocês. E quero que saibam que jamais desistirei de vocês. Continuarei indo lhes visitar. Prosseguirei insistindo, até o último dia de minha vida. E estejam certos: a minha esperança em vocês nunca acabará.

Ao terminar a leitura, os sete jovens estavam todos chorando.

O enterro de Marciano foi simples, mas de grande significado. Os seus sete anjos estavam lá, se revezando para carregar o caixão.

João Pedro, Cristiano, Alexandre, André Luis, Luis Carlos, Márcio e Jonas. Todos os sete recuperaram-se de suas dependências e, recentemente, fundaram o seu próprio lar para auxílio a dependentes químicos. O nome do lar?

"Lar São Marciano"!

Alguém disse a João Pedro que aquele nome era muito estranho, pois "nunca houve um Santo chamado Marciano".

João Pedro simplesmente sorriu, com o olhar de quem não concordava com aquilo, mas não disse nada. Apenas sentou em um canto da sala, abriu um livro e começou a ler um trecho para os jovens do novo lar. Era o livro que os sete haviam publicado, reunindo todos os textos de "Marciano".

Isto é (e por que não?) os textos de "São" Marciano.


Não sei quanto aos anjos
mas é a bondade que dá asas às pessoas.


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Tecnologia e sociedade

Por muitos e muitos anos, dediquei-me a estudar (e em seguida a trabalhar com) tecnologia.

Depois, passei para a gestão de tecnologia (isto é, a viabilização de empreendimentos de base tecnológica).

Agora, em um blog que trata de "tecnologia", sinto-me bem mais atraído a falar a respeito da gestão da vida daqueles que trabalham com tecnologia. E sobre a influência da tecnologia no dia-a-dia das pessoas, nos seus comportamentos, nas suas formas de pensar e de fazer.

Nesse sentido, entendo que a tecnologia é essencial para o nosso dia-a-dia ser facilitado, mas muitas pessoas transformam o que era para ser simplesmente um meio em uma essência, e, deste modo, acabam se isolando.

Sobre isso, fico pensando se a culpa disso é do computador ou da pessoa?

Dizem que "armas não matam pessoas, pessoas matam pessoas". Certo! Mas "como" as pessoas matam? Certamente, em muitas situações, com armas! Portanto, se estas não estivessem tão disponíveis, talvez houvesse menos violência.

Transportando agora esse mesmo raciocínio para o campo tecnológico, não é que eu ache que a tecnologia deva estar "menos disponível". É claro que não! Mas, certamente, o homem deve controlar seus instintos tecnológicos, e, por livre decisão, desligar ou deixar alguns equipamentos de lado, nem que seja por poucos minutos, durante os finais de semana.

Em sua casa, é só você experimentar desligar a TV durante as refeições para assistir, em pouco tempo, o diálogo familiar evoluindo muito em qualidade e quantidade, ao vivo e à cores. Ou tentar estimular seu filho a desligar o MSN e ir jogar bola com os amigos, para ver o menino progredindo imensamente em termos de comportamento e relacionamento interpessoal. Ou, ainda, sair um pouco da frente do computador, no seu trabalho, e promover uma reunião onde as pessoas possam trocar informações umas com as outras, e interagir frente à frente, para ver o relacionamento geral melhorando, boas idéias sendo propostas e novas soluções sendo buscadas.

E agora vou lhe contar um segredo. De início, sei que você vai duvidar do que vou lhe dizer em seguida; mas acredite, pois é verdade! Aqui vai o segredo:
"você não vai morrer se ficar por meia hora sem ler seu e-mail". Pode tentar! Garanto que não há perigo de vida! Como resultado, prometo que você acabará trocando sua persona virtual pela sua persona real (que é infinitamente melhor e mais rica!).

E, ao cair na real, talvez você até passe a me ajudar, comentando e contribuindo com a sua humanidade neste blog.

Finalmente, eu lhe desejo, neste final de semana, muitos abraços e um (apenas um!) aperto de mouse!
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sexta-feira, 27 de junho de 2008

Sinal dos tempos

O Didu informa que
em atendimento ao programa de conservação de energia
a luz no fim do túnel foi desligada.

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quarta-feira, 25 de junho de 2008

Modernizando os ditados


"Melhor prevenir do que reformatar".

"Quem semeia e-mail, colhe spam".


"Para bom provedor, meia senha basta".
(e, na versão mais desbocada: "Para mau provedor, meia senha é bosta").


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segunda-feira, 23 de junho de 2008

O "MS iPod"

Se a Microsoft comprasse a Apple, veja como ficaria o iPod!

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Discernimento

Todos nós precisamos tomar cuidado com respeito à veracidade daquilo que se encontra na Internet.


Isso é bem mais importante nos alunos do ensino básico e fundamental, que acessam bastante a
web e, de uma forma geral, ainda não possuem o necessário discernimento para filtrar informações.

Nesse sentido, a enciclopédia
on-line Wikipedia tem sido responsabilizada, na Escócia, pela queda de desempenho dos alunos nos exames escolares. Veja a reportagem aqui (em Inglês).

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domingo, 22 de junho de 2008

Viajando para o interior


Outro dia, assisti a uma palestra sobre ‘Gestão da Carreira e da Vida Pessoal’, quando se falou que “devemos assumir o controle da própria vida”.

Fiquei depois pensando sobre o assunto e cheguei à conclusão que o ponto de partida para retomarmos as rédeas das nossas vidas está mais perto do que possamos imaginar, porque, sem sombra de dúvida, isso passa pelo AUTOconhecimento.

Fala-se muito da comunicação interpessoal, mas estou certo de que deveríamos nos voltar bem mais para o aprimoramento da nossa comunicação INTRApessoal.

Maduro (e realizado, e feliz) é o homem que se propõe a fazer uma “aventura interior”, num “mergulho” de fora para dentro. Assim, ao invés do foco comumente dado aos nossos atributos externos, a nossa maior conquista de fato ocorre quando nos interiorizamos.

E é somente aí que surgem, naturalmente, as questões filosóficas cruciais: De onde viemos? Quem somos? Para onde vamos? E é interiorizando que tomamos consciência do que realmente nos importa e para que direção queremos apontar nossas vidas.

Dizem que “querer é poder”. Mas como podemos nos livrar daqueles hábitos indesejáveis que exterminam as nossas iniciativas?

Explico: quantas vezes você já disse querer começar um regime (ou a academia, ou qualquer outra coisa) “na segunda-feira”? E, depois, com o propósito frustrado, a “culpa” passa a ser do mau tempo, de uma “obrigação importantíssima” que apareceu no trabalho, do engarrafamento no trânsito, do rádio-relógio que deveria ter tocado mais cedo, da preguiça... Assim, é essencial que reflitamos, que identifiquemos as velhas crenças, que tomemos consciência tanto do punhado de desculpas que muitas vezes usamos (para os outros e para nós mesmos), como dos obstáculos externos (mas principalmente dos internos!) que minam a nossa vontade.

Abandonar no meio do caminho tarefas ou objetivos que nós mesmos estabelecemos, começar muitas coisas sem concluí-las, adiar responsabilidades, não perseverar na conquista de nossos objetivos, desistir na primeira barreira que encontramos... São todos sintomas de dispersão interior. De falta de comunicação interna.


Profissionalmente, o homem que não interioriza pode até ter grandes aptidões e conhecimento, mas deixa-se levar “ao sabor das ondas”. Ele resiste em iniciar uma nova tarefa, pois ela o tirará de uma posição “de conforto”. Ele se aborrece, se desinteressa e se desmotiva no decorrer de uma atividade, pois nunca refletiu sobre o fim último daquela ação. E ele nunca quer chegar à perfeição, isto é, à completa finalização daquilo que está fazendo (pode até escalar uma montanha, mas nunca chega a vencer os últimos metros, aqueles que o levam “ao cume”; ele desiste antes.). Assim, desmotivado e desiludido, torna-se um homem profissionalmente frustrado e que passa a “culpar”, a tudo e a todos (menos a ele próprio!), pelas suas infelicidades.

Socialmente, o homem que não interioriza é apenas uma casca, é sem conteúdo, é vazio, é raso, é máscara, é aparência. Busca a felicidade nas coisas de fora, no que é exterior, e como a procura no lugar errado, nunca a acha. E se frustra. E se entristece. E se deprime. E culpa “o destino, que não lhe foi suficientemente generoso”.

Na família, o homem que não interioriza é ensimesmado. É capaz de passar horas navegando na Internet, lendo a revista Veja ou assistindo ao telejornal, sem notar que a esposa ou os filhos estão sozinhos na sala, carentes de atenção, de afeto, de amor. E novamente, chegam as desculpas: “Estou cansado, passei o dia todo trabalhando, preciso de um minuto de sossego!...”.

Espiritualmente, o homem que não interioriza é aquele que declara ser de determinada religião, mas sempre adiciona, logo em seguida, o termo “não praticante”. Sendo fraco, instável e preguiçoso no trabalho, socialmente e na família, não poderia ser diferente nas coisas de Deus. Assim, torna-se arrogante, cínico e orgulhoso perante o Criador. E, novamente, se vale de várias desculpas para se justificar, normalmente culpando “a Igreja, que seria antiquada por não aceitar o casamento gay, o divórcio e o aborto”; ou culpando “o padre que lhe sugeriu educar seus instintos ao invés de recorrer desregradamente à camisinha”; ou ainda “o pastor, que seria apenas um mercenário em busca do dinheiro dos iludidos fiéis”.

Daí a importância do relacionamento INTRApessoal! É só na reflexão mais íntima que cada um busca o real sentido da sua vida. E é só interiorizando que se educa a vontade para ser fiel não somente aos propósitos mais profundos – aqueles que dão sentido à vida - como também para agir segundo seu querer.

A vontade pode ser definida como a capacidade de fazer algo, antecipando conseqüências e sendo capaz de adiar uma recompensa. “Quero muito trocar de carro, mas minha prioridade é economizar para dar entrada num apartamento”. “Quero emagrecer e sou capaz de abrir mão de uma pizza ou de uma sobremesa”. Por mais que eu seja bombardeado por estímulos diversos, eu me coloco em movimento para alcançar uma meta. Vontade é essa perseverança que cresce diante dos desafios. É ter preguiça de ir à academia, mas insistir. É a tenacidade conquistada por nunca se deixar vencer pelos obstáculos. É saber o que se quer, aprendendo a disciplinar as necessidades.

Assim, maduro (e realizado, e feliz) é o profissional que não somente busca conhecer e desenvolver habilidades técnicas; é o pai e marido que não somente procura proporcionar bens materiais à sua família; é o filho de Deus que não somente procura comparecer (de corpo) às celebrações religiosas para simplesmente cumprir com uma tradição. Maduro, antes de qualquer coisa, é o homem que dedica tempo ao seu desenvolvimento interior.

"Conhece-te a ti mesmo!", dizia o filósofo. Só assim é que conseguiremos, de fato, assumir o controle das nossas vidas.

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