Vivemos numa época de aceleradas alterações no conhecimento, assim como nos produtos, processos e atividades.
No Brasil, e na América Latina em geral, uma agilidade muito maior é necessária para reduzirmos nossa defasagem tecnológica e acompanharmos - utilizando com vantagem - o veloz desenvolvimento que se verifica em todo o mundo.
No contexto empresarial, a rápida adaptabilidade a novas situações passou a ser questão vital. Nesse setor, as melhores culturas, sistemas e planos não continuarão sendo as melhores por muito tempo. As condições econômicas, o comportamento dos concorrentes, as dinâmicas de mercado, os avanços tecnológicos e o ambiente político exigirão mudanças sistemáticas no mais cuidadoso planejamento. Diante desse quadro, o esforço de melhoria passou a ser uma necessidade permanente.
As empresas têm, agora, de enfrentar os desafios da abertura dos mercados e da crescente globalização dos negócios, bem como adaptar-se rapidamente a novas regras de competição. Essas novas regras estão baseadas em alguns fatores em relação aos quais a Pesquisa e o Desenvolvimento (P&D) desempenham papel indispensável, quais sejam: qualidade elevada e alto grau de diferenciação dos produtos, custos de produção reduzidos, grau de atualização tecnológica adequado e ritmo de desenvolvimento de produtos condizente com o nível de competição e com as expectativas dos clientes.
Com o encurtamento do ciclo de desenvolvimento de produtos, as empresas que não estruturarem de modo adequado suas áreas de P&D para obter resultados com potencial de retorno, terão sua existência fortemente ameaçada por outras empresas mais focalizadas, mais ágeis, que tenham a função de P&D plenamente integrada às suas metas estratégicas de negócios e possuam objetivos e desempenho mensuráveis e controláveis.
Nas próximas décadas, a concorrência se internacionalizará cada vez mais, concentrando-se progressivamente nas potencialidades tecnológicas. Os recursos físicos e financeiros, as capacitações de trabalho e a tecnologia serão altamente móveis. Obterão sucesso na competição global as empresas que empregarem tecnologia para manter vantagem na qualidade e diferenciação na produção, incrementar a inovação, otimizar a produção e implementar estratégias de marketing para aumentar o poder de resposta aos interesses de mercado. Esse sucesso, por sua vez, dependerá da habilidade de cada empresa em administrar seus esforços de P&D.
Os objetivos máximos de um processo de P&D passarão a ser, portanto, aumentar o valor dos negócios para a empresa e criar novas oportunidades, antevendo as necessidades futuras dos clientes. O papel da P&D na adição de valor deve ser expresso em uma ou mais das seguintes dimensões:
- Custo: manter baixos os custos de desenvolvimento de produtos e processos e minimizar o custo de fabricação.
- Qualidade e diferenciação: garantir produtos com qualidade competitiva e elevado grau de diferenciação no mercado.
- Velocidade: encurtar os ciclos de desenvolvimento de produtos e processos.
- Imagem: manter a reputação de alta qualidade, capacidade inovadora, receptividade e responsabilidade social da empresa.
A P&D empresarial precisa ter, pelo menos, os seguintes propósitos estratégicos importantes:
- modificar os produtos para melhorar a sua aceitação por parte do cliente ou adaptá-los a diferentes padrões de mercado ou regulamentação, pelo uso de matérias-primas diferentes ou novas, bem como pela introdução de melhorias nos processos de produção;
- considerar atividades não discricionárias, tais como as relacionadas com a segurança e a conformidade com a legislação ambiental;
- desenvolver novos produtos e processos para melhorar a posição competitiva dentro da estrutura comercial existente;
- criar oportunidades para o surgimento de outros negócios relevantes para a empresa, os quais podem ser novos somente a ela e/ou para o mundo, utilizando tecnologias existentes ou novas (da mesma forma, novas para a empresa e/ou para o mundo);
- ampliar e aprofundar as capacidades tecnológicas, podendo essas ações referir-se a um negócio atual ou novo, dependendo da oportunidade percebida e da posição competitiva da empresa.
A administração da empresa moderna deve assumir uma perspectiva corporativa. Ela necessita avaliar não somente as recompensas diretas de cada projeto, mas o "potencial de trampolim" que ele oferece para o conjunto de seus negócios e para a corporação, na forma não somente de avanço num ritmo mais acelerado e a passadas maiores, como também de sinergia tecnológica e conhecimento adquirido. Ela precisa avaliar a importância do desenvolvimento da tecnologia subjacente ao projeto, quanto a seus efeitos sobre os negócios e os posicionamentos estratégicos pretendidos pela corporação. Deve também avaliar a natureza das habilidades e recursos necessários a sua relativa disponibilidade ou escassez. Só então a administração da empresa moderna estará apta a optar por um dos projetos ou acomodar diversos projetos através do aumento dos recursos. Por fim, ela precisa trabalhar duro para manter a flexibilidade dos recursos internos. Conseguirá isso estimulando o uso de abordagens interdisciplinares, usando amplamente recursos externos e considerando sempre a alternativa de "comprar" (terceirização) antes de investir no "fazer" internamente. Prioridades devem ser regularmente estabelecidas, tanto para os empreendimentos com maior ênfase em pesquisa quanto para aqueles mais voltados ao desenvolvimento, entre projetos e tecnologias, segundo seus custos/benefícios e contribuições para os objetivos comerciais e corporativos, por suas estruturas de tempo e pelos riscos associados - tudo numa base de carteira corporativa de projetos. Ela deve estar pronta, também, para reavaliar as prioridades sempre que eventos externos ou desenvolvimentos internos assim exijam.
É verdade inquestionável que a P&D empresarial produz somente um produto: o conhecimento. Trata-se de conhecimento com um propósito, mas, ainda assim, apenas conhecimento. A P&D não cria um produto físico para venda ou um processo operacional. Ela não produz rendimentos, redução de custos, novos negócios, nem mesmo qualidade. É porém, fundamental como fator de sobrevivência a percepção de que a P&D produz o know how que está nos alicerces de todos esses resultados. Ou seja, as empresas que não investirem na P&D fatalmente perecerão: será apenas uma questão de tempo.