É difícil entender o que se quer dizer por “gestão do conhecimento”, visto que conhecimento é um processo (e como tal: dinâmico, mutável), sendo que no limite das coisas poderíamos dizer, inclusive, que conhecimento é passado, sempre passado.
Assim, sob o ponto de vista antropológico-filosófico, nunca poderíamos gerir conhecimento, pois não se pode gerir o passado.
Podemos gerir informação. E gerir tecnologia. E gerir inteligência. E gerir inovação. Mas conhecimento, na acepção desta palavra, não!
Ainda sobre esse tema, segue um outro aspecto, que deixo para reflexão: gerir inovação tecnológica não pode ser somente a gestão de sistemas. Nem só a de equipamentos. Nem só a de tecnologia de uma maneira geral. Nem só a de mercado. Nem só a de custos. Envolve todas essas coisas, mas anteriormente a isso está o pensar! E é por esse motivo que se faz necessário que sempre se comece com a gestão “da inteligência”!
Como todo conhecimento é passado (portanto obsoleto), para que a inovação ocorra é necessário que se tenha um adequado modelo “de pensamento”. Nesse aspecto, conhecimento é necessário, mas o segredo é o seguinte: é preciso ampliá-lo sempre. É necessário atualizá-lo continuamente, em uma corrida sem fim, pois à medida que o adquirimos ele já vira passado. Fica obsoleto. O pulo do gato, então, está no “desenvolvimento”, com recursos (intelectuais) próprios, de novos conhecimentos. Para isso, repito que é preciso que se construam os modelos mentais certos. Pois se isso não for feito, não há inovação!
Nesse processo, é muito comum a tendência de olhar para a concorrência e tentar igualá-la. Mas fazendo-se simplesmente assim, nunca serão criados os diferenciais competitivos necessários. Não seremos inovadores, senão imitadores (ou, na melhor das hipóteses, “aprimoradores” daquilo que imitamos).
Portanto, chegamos ao ponto em que eu queria: colecionar (e gerir) uma quantidade enorme de informação não significa necessariamente inovar. É preciso que haja a cultura do pensamento adequado, isto é, daquele que transforma conhecimento em algo surpreendente e desejado. E para tal é necessário (além do modelo mental adequado) que se tenha um inconformismo interior, que não permita que as pessoas se acomodem com o sucesso do dia anterior, nem se iludam com o que já se sabe (pois, como vimos, aquilo que já se conhece é… Passado!).
Como, então, é possível “chegar lá”? Com um aprendizado permanente e multidisciplinar. Só assim são desenvolvidas inteligências perceptivas para o que está acontecendo e, principalmente, para o que deverá ocorrer. E essa cultura deve espalhar-se por toda a empresa. Uma área específica de Inovação, ou de Novos Negócios, ou de Novos Mercados, ou de Novos Produtos e Serviços torna-se míope quando se fecha em si mesma.
A cultura é a chave. E é chave a cultura do aprender e do estar sempre concebendo novos horizontes e caminhos. Do contrário, vira-se passado. A obsolescência vem, e ela chega no minuto seguinte.
Construir bons teatros (físicos) não é difícil (basta possuir os recursos necessários e contratar bons arquitetos e engenheiros). Identificar e contratar bons artistas, também não o é. Entretanto, para que sejam criados bons enredos, originais, surpreendentes, que interessem ao público pagante, é preciso que se esteja continuamente antenado, e sempre inconformado com o conhecimento e o sucesso previamente adquiridos. Do contrário, não haverá espetáculo. Ou haverá, mas sem platéia. E teremos (como last resort) que valorizar, simpesmente, "a construção do teatro"...