quinta-feira, 29 de março de 2007

Investir em um país mais competitivo

Perdoem-me pela maior extensão dos textos de hoje. Acho que acordei mais verborrágico nesta quinta-feira!


Vou falar agora sobre uma questão já crônica em nosso país: o fato de o Brasil investir muito pouco na produção do saber científico e tecnológico (como este blog trata de questões relacionadas à inovação em telemática, entendo que este tema está de acordo).

Nos últimos 25 anos, nosso país tem aplicado em Ciência & Tecnologia recursos a uma taxa aproximadamente constante de 0,5 a 0,6% do seu Produto Interno Bruto; a média dos países mais desenvolvidos investe 2,5% do seu PIB. Como a população brasileira cresceu nesse período, os investimentos ficaram cada vez menores por habitante: hoje, são US$ 30 por habitante, contra cerca de US$ 300 por habitante nos países de maior desenvolvimento.

Apesar de ser a 8ª economia do mundo, o Brasil ocupa o 30º lugar na ciência mundial. Temos aproximadamente 90 mil cientistas ativos, número muito pequeno quando comparado com o milhão de americanos, os 600 mil japoneses e os 300 mil alemães, que produzem C&T em seus países.

Nosso ensino de primeiro e de segundo graus quase não motiva para as carreiras voltadas à exploração científica. No ensino superior, as instituições públicas, com escassez de recursos e sem ambiente propício, têm baixíssima safra científica, que ainda assim não se alinha à nossa realidade. A grande maioria das outras unidades desse nível -- comunitárias e particulares -- não realiza essa função. Nos cursos de pós-graduação, os ajustes necessários são inúmeros para que eles se transformem numa usina confiável de geração contínua de novos conhecimentos. Enquanto nos países mais desenvolvidos, a inovação tecnológica sai direto de seus laboratórios de pesquisa e desenvolvimento para o chão das fábricas, entre nós, as teses e pesquisas, inaplicáveis, mofam em nossas bibliotecas. As empresas, que fazem da Ciência & Tecnologia utilidades para a massa da população, quase não têm o hábito de buscar o conhecimento de que precisam nas poucas universidades e institutos de pesquisa e desenvolvimento realmente capacitados. Tem-se ainda muito a fazer pela C&T no Brasil.

Diante desse quadro, o óbvio salta aos olhos: o Brasil carece de Ciência & Tecnologia, produzidas aqui. Copiamos quase tudo (nem sempre com sucesso) dos poucos países detentores de um dos poderes mais decisivos do mundo, maior que a hegemonia política ou econômica: o conhecimento técnico-científico, o know-how. Nossa entrada no Primeiro Mundo não se fará sem produção de informação técnica e científica, maior e mais significativa. Só o impulso de uma C&T nossas contribuirá para alavancar o país para um desenvolvimento pleno e auto-sustentado.

Pergunto: estaremos condenados a amargar essa posição de atraso científico e tecnológico no círculo vicioso que gera o subdesenvolvimento que por sua vez gera o atraso? É possível produzir conhecimentos e instrumentos válidos para fundamentar soluções adequadas aos nossos problemas? Que realidades tolhem a formação de um ambiente propício à experimentação e às pesquisas produtoras de um conhecimento técnico-científico, de teor universal, sem dúvida, mas principalmente direcionadas ao atendimento das necessidades próprias do país?


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