terça-feira, 11 de março de 2008

O reino da gurulândia

Tenho uma verdadeira e já antiga aversão aos chamados 'gurus', seja de que campo de "especialidade" (aspas propositais) eles forem.

Na Administração, a técnica dos gurus está em algum lugar entre a comédia e a tragédia: uma companhia começa a fazer sucesso e a "gurulândia" toda corre para adaptar uma história que passe a "explicar" aquele sucesso. E, mais rapidamente do que alguém possa imaginar, eles publicam livros (que ordinariamente viram bestsellers) e passam a oferecer consultorias, palestras e cursos caríssimos. Tudo com o propósito (que eles procuram tornar bem visível) de nos induzir a agir como aquela companhia, e, obviamente, com a real intenção (que eles tentam "invisibilizar") de que eles (os gurus) ganhem muito dinheiro com toda essa manobra.

E o marketing que usam nisso é pesado! E dá certo! E 'ai' se você ousar criticar um guru: passa a ser massacrado! E, se você estiver cursando um MBA, permita com que eu lhe deixe aqui uma dica: jamais critique um guru em sala de aula, pois você correrá um grande risco de vir a ser reprovado (ou, pelo menos, o professor tentará ridicularizar você e a sua crítica, tudo sob as risadinhas irônicas de seus coleguinhas)! É assim que funciona o marketing: influencia fortemente a opinião pública, que prefere "ir na onda" a tentar racionalizar e enfrentar o desgaste de defender alguma opinião própria. E, desta maneira, os gurus continuam nos enrolando. E fazendo sucesso!

Mas por que estou falando sobre isso?

Porque o Google é o foco atual dos gurus (principalmente pelo fato de que a Microsoft está querendo adquirir o Yahoo!, para fazer frente aos avanços do Google).

Todos os gurus, agora, tentam explicar os motivos pelos quais o Google é sucesso. E começa a pregação: "é preciso arriscar!"; "é necessário ter foco!"; "inovar é fundamental!"; "tem-se que fazer isso e aquilo!". O que eles não vêem (ou se vêem não dizem) é que milhares de companhias arriscaram, tiveram foco, fizeram tudo o que está sendo pregado e... Foram para o buraco!

Oras bolas! Lembro de ter lido a declaração dos próprios proprietários do Google de que eles jamais planejaram o negócio da forma como ele evoluiu (uma agência de propaganda virtual, imensa e poderosa, fantasiada de um mecanismo de busca, visualmente bem singelo), e que jamais imaginaram que iriam crescer tanto. Em outras palavras (e isso ninguém diz): se chegaram aonde chegaram, foi também por uma boa dose de... Sorte!

Será que eu fui o único que leu essa declaração? Claro que não! Mas foi uma entrevista antiga, quando os proprietários do Google eram ainda imaturos e estavam extasiados com o sucesso que começavam a fazer. Hoje, certamente, já perceberam que 'sorte' não dá prestígio para ninguém (embora dê dinheiro!), e é claro que não dão mais aquele tipo de declaração.

E, além disso, ainda sobre o tema 'sorte': ela dá dinheiro para as cartomantes, não para os gurus (os quais, por isso, nunca vão falar dela, com o devido valor que ela mereceria!).

De tudo isso, espero com humildade deixar ao menos uma mensagem que entendo como fundamental: não adianta só olharmos para negócios bem sucedidos e tentarmos "explicar" as possíveis razões que originaram aquele sucesso. É necessário, também, que olhemos para os que não deram certo, procurando identificar os motivos dos fracassos. E uma coisa é certa: estes são em número muito maior do que aqueles. Embora os gurus não o digam!


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