quarta-feira, 14 de maio de 2008

A luz que falta nas empresas

São em geral muito bons os textos do Clemente Nóbrega, publicados periodicamente na revista Época Negócios.

Nóbrega diz, por exemplo, o seguinte:

É curioso que mesmo com todo o blá-blá-blá atual sobre “a importância das pessoas”, não haja progresso na área de gestão de pessoas. Há progresso no uso de novas tecnologias, há avanços em marketing, em governança, em ferramentas de gestão tipo BSC e CRM, mas, com relação a “pessoas”, o que chama a atenção é a quantidade de gente infeliz, “abafada”. Não é que falte talento às empresas; as pessoas não são incompetentes. Não é tecnologia, recursos, infra-estrutura, nada disso. Falta um certo “algo” que geraria luz se existisse, mas, como raramente existe, o que há é abafamento. Calor.

Não vá pensar que estou de má vontade. Ao contrário, sou fã dessa tecnologia, recentíssima na história da civilização, a que chamam empresa. Ela, como a entendemos hoje, é essencial para tornar produtivo o esforço humano. É indispensável para o progresso e a prosperidade de pessoas e países. Tudo isso é fácil demonstrar. Mais sutil é entender por que temos de conviver com tanta frustração, “calor”, no dia-a-dia. Por que temos de pagar preços individuais tão altos para que “a empresa” tenha sucesso. Empresas de sucesso, pessoas infelizes. Tem que ser assim?

E ao continuar, Nóbrega fala sobre gestão de pessoas e diz que liderança não é para qualquer um...

Liderança é a mais relevante função gerencial nesses tempos em que conhecimento e inteligência são a matéria-prima do sucesso de pessoas e empresas. Liderança não é para qualquer um, pois exige, entre outras coisas, uma enorme integridade pessoal. Integridade tem custo. Um custo que é muitas vezes insuportável para pessoas “comuns”. É por isso que chefes são comuns, líderes são raros. É por isso que há muitas empresas de sucesso, mas pouca gente feliz lá dentro.

Segundo Nóbrega, criatividade é fator decisivo, porém...

Ninguém discorda: num mundo em que coisas – produtos, objetos, artefatos etc. – tendem a virar commodities, a criatividade é o fator decisivo. Ainda assim, gente é o “ativo” menos cientificamente gerenciado nas organizações. Por que será que isso é assim se são pessoas que fazem as coisas acontecerem e, apesar de tudo, as coisas acontecem?

A conclusão a que cheguei foi a seguinte: há mais calor que luz nas organizações porque a maior parte delas é ruim de gestão de pessoas. É ruim de gestão. Ponto.

É isso mesmo: gestão de organizações é gestão de pessoas.

Já houve tempo em que se pensava que gestão era sobre finanças, tecnologia, logística, fabricação, mas essas coisas se compram. Gestão é sobre gente. Gestão é difícil porque “gente” é desenhada (e mal desenhada) pela biologia para pensar primeiro em si, não no “grupo”. Gente é falha no pensar. Gente (sem trocadilho!) é um problema, pessoal! Quer resultado por meio de pessoas? Implante um sistema que contorne o que a biologia nos impõe. Gestão de pessoas deveria ser essencialmente sobre isso.

Recusamo-nos a reconhecer o que existe de fato: o chimpanzé interesseiro e cheio de “defeitos de fabricação”, que é o que a média das “pessoas” é, incluindo seus líderes, naturalmente.

Isso não é uma figura de retórica – tirando o “chimpanzé”, que está meio exagerado – é a base sobre a qual repousa nosso melhor entendimento sobre o que são “pessoas” e como elas agem. Não dá para acreditar numa gestão de pessoas que não leve isso em conta.

Mas o que pode ser feito? Qual é o segredo? Eis o que Nóbrega diz a respeito...

A chave para o sucesso das organizações não pode ser (e não são) pessoas especiais. São pessoas “médias” operando em sistemas gerenciados. É a gestão que nos habilita a trabalhar em conjunto com outros e colaborar em grupo sem ímpetos assassinos. Não me xingue, mas o sistema – ou seja: a gestão – é mais importante para a performance do que “as pessoas”. Muito, muito, muito mais.

Esse é o “segredo sujo” do mundo das organizações. Pode não soar muito virtuoso, mas é assim. Não existem “pessoas especiais”, esqueça essa bobagem. Só existem pessoas “médias” que um certo ambiente, desenhado e gerenciado intencionalmente para tal, torna especiais. Líderes sim, têm de ser especiais num sentido preciso; liderados não.


Uma gestão de pessoas (empresas/organizações) que parta das premissas certas provém foco, rumo e ilumina o cenário.

Traz luz.

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