Sinal ou ruído?
Tenho um amigo que sempre foi muito calmo e, também, extremamente culto.
Suas conversas são habitualmente bem interessantes, pois podem versar, literalmente, sobre qualquer coisa: filosofia, psicologia, antropologia, sociologia, teologia, história,...
Há cerca de um mês, ele me contou que a tecnologia acabou "lhe vencendo": ele finalmente havia adquirido seu primeiro celular e mandado instalar "banda larga" em seu computador.
De lá para cá, tenho observado nele uma verdadeira revolução. Não consigo mais encontrar no meu amigo a mesma pessoa calma e tranqüila de antes. Está com uma aparência terrível, visivelmente mais agitado, pálido, com olheiras e olhos vermelhos.
Ele me diz que tem passado as noites baixando álbuns de música e livros digitais!
Eu, como alguém que trabalha com Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), deveria ficar contente com essa "revolução" que está ocorrendo na vida dele. Entretanto, por outro lado, vejo que estou perdendo aquele amigo com quem eu trocava muitas idéias e informações interessantes, sobre diferentes temas. Em pouco tempo, ele se tornou "mais um" companheiro que fala sobre o mesmo (e único) tema de sempre: as TICs.
Agora ele passa horas e horas monitorando o progresso de uma barra de download, na tela de seu computador; e acha maravilhoso que as músicas (que antes ele ouvia em CDs) estejam sendo baixadas (no seu PC, a partir da Internet). O prazer, ao invés de ser o da música em si, passou a ser o de "baixar" a música. Inacreditável!...
Nunca imaginei que "este" meu amigo seria contaminado pelo comportamento insano que as TICs podem proporcionar nas pessoas: verdadeira doença, que faz com que os usuários dessas tecnologias percam a capacidade de discernimento entre o que é sinal e o que é ruído em suas vidas.
É claro que as tecnologias trazem progresso e que queremos ter os equipamentos mais atualizados, bem como as bandas cada vez mais largas. Entretanto, embora possa parecer paradoxal o que vou dizer, é fundamental que também saibamos pisar no freio de vez em quando, pensando no que realmente queremos para nós, no que de fato nos deve dar prazer, naquilo que devemos verdadeiramente valorizar em nossas vidas.
E, nesses momentos, identificaremos o que há de mais precioso em nossas vidas, que não são os celulares, os computadores, as HD-TVs, as bandas largas...
...É quando encontraremos as nossas melhores amizades. É quando encontraremos o carinho e o suporte incondicional de nossos familiares. É quando encontraremos a nós mesmos. E é quando encontraremos Aquele que nos criou e que nos ama infinitamente.
Banda, cada vez mais larga, SIM!
Pé no freio, cada vez com maior freqüência, TAMBÉM!
O verdadeiro progresso está no discernimento. A virtude, na moderação.
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