domingo, 17 de janeiro de 2010

O que os outros irão achar?...

— Um burro com duas pessoas em cima! Isso é demais para o pobre animal! — indignou-se a mulher quando viu passar o velho e seu neto viajando montados num burro.

Foi o suficiente para o avô descer e seguir viagem só com o neto montado.

— Que vergonha, um velho cansado ir a pé e um menino saudável ir montado! — foi o comentário que ouviram da próxima pessoa que encontraram.

O jeito foi o velho trocar de lugar com o menino. O menino desceu e o velho subiu.

— Esse marmanjo montado não tem consideração para com o pobre menino? — foi o comentário seguinte.

E a viagem seguiu com os três caminhando com as próprias pernas, o velho, o burro e o menino.

— Vocês são burros ou o quê? Caminhar a pé ao lado de um burro descansado? Por que os dois não montam no burro? — perguntou alguém.

Não lembro como termina a fábula. Talvez o velho tenha se revezado com o menino levando o burro nas costas, já que só faltava tentar esta configuração!...

Este é um dilema parecido com o de profissionais que se preocupam demais com a opinião dos outros na hora de criar uma estratégia de inovação.

Para que o profissional de hoje possa inovar, deve se expor, não resta dúvida. Acontece que o latino, em geral, resiste a isso. Primeiramente, por não ter sido treinado para tal. Em segundo lugar, porque tem medo do que poderá ser a opinião dos demais profissionais da empresa sobre a sua proposta inovadora (mas uma coisa quero logo deixar claro sobre esse assunto: a opinião dos colegas de trabalho, sobre qualquer proposta de inovação que você faça, será sempre cruel, muito cruel. Não duvide: isso é lei!).

Quem já morou em algum país anglo-saxão, entretanto, sabe que lá existe uma cultura bem diferente a este respeito. Desde a escola as pessoas são estimuladas a se expor em discursos, apresentações artísticas, peças de teatro, esportes, etc. Até em enterro tem um montão de gente querendo falar!

Quando fui morar na Inglaterra, o meu chefe, “de cara”, colocou-me para fazer uma apresentação de 45 minutos para 800 pessoas, de diferentes países. E dali em diante, as palestras e apresentações nunca mais cessaram. Às vezes, viajávamos de um país para outro e não havia quase tempo de preparar o que se iria falar, sendo que as adaptações eram feitas rapidamente, no próprio vôo. O fato é que comunicávamos muito e os resultados disso eram simplesmente espetaculares. Ganhamos diversos prêmios por trabalhos inovadores apresentados e, freqüentemente, voltávamos de um circuito daqueles com vários novos projetos alinhavados.

Fazer o mesmo aqui no Brasil é para ser taxado como alguém que "quer aparecer". Aí, sabendo disso, as pessoas já se retraem, não comunicam, deixando de apresentar suas idéias, sendo que, como conseqüência, perdem grandes oportunidades, não recebem apoios suficientes e deixam de inovar como poderiam.

Mais tarde, fui morar nos EUA. Lá, as pessoas também vibravam muito quando alguém da equipe propunha algum projeto que era percebido como importante e inovador. As pessoas viam que, com cada novo projeto, era a equipe e toda a instituição que ganhariam com o prestígio e com o desenvolvimento que aquilo iria produzir.

Aqui no Brasil, por outro lado, se alguém propõe algo mais arrojado, é visto como “a zebra” do time, a pessoa “complicada”, a “sonhadora”, ou como alguém que pode tirar o lugar de uma pessoa que já esteja estabelecida em determinada posição; ou ainda, a proposta é entendida com preocupação por aqueles que a vêem como “trabalho a mais para se fazer e para nos tirar da posição de conforto em que estamos”.

Durma com um barulho desses!...

Um comentário:

Anônimo disse...

Aqui no Brasil, falar passa por censuras, revisões e se for publicado, sai distorcido nos principais pontos de interesse.
Tem que sair "bonito".
Uma ocasião iria fazer uma apres a um diretor. E fui censurado. Falar que não há, não foi visto que é um alto risco.? Nem pensar. O que, fui sutil e preparei uma apresentação um pouco diferente e qual foi a pergunta: Qual é o custo deste risco?