sábado, 20 de junho de 2009

Não cremos!

Como é mais fácil inovar em ambientes propícios à inovação. E como é difícil, se não há esse tipo de ambiente!

A minha percepção é de que não se trata de investir, nem de ter capacidade (intelectual, inventiva, etc.), mas de CRER.

Em ambientes operacionais, onde as pessoas em geral pensam e agem de forma operacional, não se acredita em inovação. E o que é pior: não se crê na própria capacidade (interna) de inovar.

Outro dia, verifiquei a perplexidade de algumas pessoas, depois que eu falei que em algumas situações, quando estava começando a desenvolver projetos inovadores, em pouco tempo alguém publicava ou lançava exatamente aquilo, nos EUA ou em algum outro lugar do planeta (e isso é algo que está se tornando cada vez mais comum, pois milhões de pessoas estão pensando coisas semelhantes, ao mesmo tempo).

Aquelas pessoas provavelmene acharam que eu estava sendo sonhador, ou talvez presunçoso. E aquilo me causou enorme desapontamento, por eu ter ali tomado consciência da insegurança e da incredulidade na própria competência, que aquelas pessoas demonstraram possuir. Mas depois, pensando melhor sobre o fato, vi que aquele tipo de reação é bem compreensível e facilmente explicado.

Em ambientes operacionais, quando se propõe algo inovador, a primeira atitude das pessoas operacionais é irem buscar, em algum lugar do planeta, se alguém já propos antes, ou está noaquele momento, fazendo a mesma coisa. Simplesmente não acreditam que podem estar à frente! Não crêem na sua própria capacidade de inovar. E é essa incredulidade que faz toda a diferença, pois se não conseguem encontrar alguém que já esteja fazendo a mesma coisa, muitas vezes se recua. E perde-se uma boa oportunidade de se estar à frente, de liderar.

Meu tio já falecido, Flávio, trabalhou junto ao médico sul-africano Christian Bernard e com outro médico, brasileiro, Euryclides de Jesus Zerbini.

Em 1967, Bernard realizou uma cirurgia que começou a mudar a medicina, mostrando que seu alcance poderia ser muito maior do que se pensava. Ele realizou o primeiro transplante cardíaco da história. Cinco meses depois, no Instituto do Coração de São Paulo, Zerbini fazia o segundo procedimento dessa natureza em todo o planeta. Lembro de meu tio dizendo que os primeiros pacientes de Bernard e Zerbini viveram pouco (menos de vinte dias), mas seu sucesso deriva do fato de eles terem aberto uma nova porta para a passagem da ciência (e da esperança!).



Outros médicos começaram a se interessar pelo assunto. Hospitais procuraram adaptar seus centros cirúrgicos para a realização de transplantes e, o mais significativo, a indústria farmacêutica se sentiu estimulada (e até pressionada) a produzir uma droga que evitasse a rejeição do órgão transplantado pelo corpo receptor.

No momento em que você está lendo este post, milhares de pessoas estão vivendo com órgãos transplantados e várias cirurgias de transplante de rins, fígado, coração, pele e medula estão sendo realizadas.

Tudo isso graças à ação de dois médicos que estavam longe do circuito americano e europeu de excelência médica!

Por que foram eles, e não seus colegas do "primeiro mundo"? Porque, além da CIÊNCIA, eles possuíam outras qualidades: OUSADIA (não esperar que os outros façam ou que o problema se resolva sozinho); CRIATIVIDADE (segurança e capacidade para fazer diferente, usando a inteligência para encontrar novas alternativas); OUSADIA (acreditar no próprio "taco" e ter coragem para dar o passo que ninguém dera antes), RESPONSABILIDADE (certeza de que seu conhecimento e suas habilidades estão adequados ao empreendimento proposto).

Para a CIÊNCIA, nós temos a inteligência e o acesso necessários. Para a CRIATIVIDADE posso dizer que não nos falta nada (no Brasil nós a temos de sobra, para os assuntos que nos interessam, nos dão prazer e nos estimulam). Mas falta-nos CRER. O problema maior, a meu ver, é de que não acreditamos na nossa própria capacidade de inovar! E, para mim, isso é o que ainda nos deixa para trás.

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