domingo, 1 de junho de 2008

Quem somos? Para onde vamos?

Quem não poderia contar, ainda que em ordens diversas, experiências como as seguintes:


– A tristeza advinda dos últimos momentos de uma festa longamente esperada?

– O olhar melancólico que a menina lança ao seu primeiro vestido de baile –já amarrotado e feio–, quando na manhã seguinte se levanta para ir à escola?

– A passagem do altar para a cozinha, do amor romântico e sem compromissos para as responsabilidades do lar, tão depressivo para algumas esposas jovens?


– Os aplausos dos trunfos que se apagam e ficam no esquecimento?


– A publicação de livro que exigiu tantos esforços e que, no fim, se reduziu a mais uma obra, entre muitas, numa biblioteca empoeirada?


– E até mesmo o sorriso da Patrícia Poeta no Fantástico, domingo à noite, que vem recordar que amanhã é novamente segunda-feira, causando de imediato um sentimento de angústia e depressão?


O fato é que, se continuarmos vivendo a vida nos portando como barcos à vela, isto é, "ao sabor dos ventos", sem buscarmos ir a fundo nos últimos por quês de nossas existências, jamais sairemos dessas agonias.

Do fim da filosofia temos ouvido falar, há muito tempo. Mas já se percebe que não é tão fácil desprender-se de um hábito tão arraigado como o de pensar (sem urgência nem fins utilitários imediatos) sobre este núcleo de perguntas que sustenta toda forma de cultura.

Por outro lado, a queda da reflexão filosófica diante da evolução do pensamento científico-tecnológico, pareceria apoiar a opinião de que a filosofia seria "coisa do passado".

Embora não haja dúvida de que os avanços científicos e técnicos dos últimos anos têm contrubuído de maneira decisiva para o bem-estar de inúmeras pessoas, precisamente as nossas sociedades ocidentais, tidas como tão desenvolvidas, apresentam sintomas preocupantes. E entre os mais sérios estão justamente a tristeza, o tédio, as frustrações e a depressão.

Compreender o papel central da filosofia –com suas grandes questões: quem somos? Para onde vamos?– na formação da cultura e da mentalidade de uma sociedade contribuiria para colocar no seu devido lugar a importância dos bens materiais, das possibilidades de desenvolvimento pessoal que nos são oferecidas, e enfrentar com êxito tudo aquilo que surge em nossa vida como algo incompreensível ou inaceitável.

Nisto (mas sem se limitar a isto!) a filosofia pode ser útil: não tanto porque ela traga a felicidade, mas porque ajuda a descobrir as falsas imagens da felicidade.

A racionalidade científica-técnica, muito válida no seu próprio contexto, é, sem dúvida, limitada. Não podemos nos surpreender de que as respostas que oferece para as questões verdadeiramente importantes da vida sejam tão insuficientes. Sem horizonte, andamos perdidos. Necessitamos de uma razão filosófica.


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