domingo, 22 de junho de 2008

Viajando para o interior


Outro dia, assisti a uma palestra sobre ‘Gestão da Carreira e da Vida Pessoal’, quando se falou que “devemos assumir o controle da própria vida”.

Fiquei depois pensando sobre o assunto e cheguei à conclusão que o ponto de partida para retomarmos as rédeas das nossas vidas está mais perto do que possamos imaginar, porque, sem sombra de dúvida, isso passa pelo AUTOconhecimento.

Fala-se muito da comunicação interpessoal, mas estou certo de que deveríamos nos voltar bem mais para o aprimoramento da nossa comunicação INTRApessoal.

Maduro (e realizado, e feliz) é o homem que se propõe a fazer uma “aventura interior”, num “mergulho” de fora para dentro. Assim, ao invés do foco comumente dado aos nossos atributos externos, a nossa maior conquista de fato ocorre quando nos interiorizamos.

E é somente aí que surgem, naturalmente, as questões filosóficas cruciais: De onde viemos? Quem somos? Para onde vamos? E é interiorizando que tomamos consciência do que realmente nos importa e para que direção queremos apontar nossas vidas.

Dizem que “querer é poder”. Mas como podemos nos livrar daqueles hábitos indesejáveis que exterminam as nossas iniciativas?

Explico: quantas vezes você já disse querer começar um regime (ou a academia, ou qualquer outra coisa) “na segunda-feira”? E, depois, com o propósito frustrado, a “culpa” passa a ser do mau tempo, de uma “obrigação importantíssima” que apareceu no trabalho, do engarrafamento no trânsito, do rádio-relógio que deveria ter tocado mais cedo, da preguiça... Assim, é essencial que reflitamos, que identifiquemos as velhas crenças, que tomemos consciência tanto do punhado de desculpas que muitas vezes usamos (para os outros e para nós mesmos), como dos obstáculos externos (mas principalmente dos internos!) que minam a nossa vontade.

Abandonar no meio do caminho tarefas ou objetivos que nós mesmos estabelecemos, começar muitas coisas sem concluí-las, adiar responsabilidades, não perseverar na conquista de nossos objetivos, desistir na primeira barreira que encontramos... São todos sintomas de dispersão interior. De falta de comunicação interna.


Profissionalmente, o homem que não interioriza pode até ter grandes aptidões e conhecimento, mas deixa-se levar “ao sabor das ondas”. Ele resiste em iniciar uma nova tarefa, pois ela o tirará de uma posição “de conforto”. Ele se aborrece, se desinteressa e se desmotiva no decorrer de uma atividade, pois nunca refletiu sobre o fim último daquela ação. E ele nunca quer chegar à perfeição, isto é, à completa finalização daquilo que está fazendo (pode até escalar uma montanha, mas nunca chega a vencer os últimos metros, aqueles que o levam “ao cume”; ele desiste antes.). Assim, desmotivado e desiludido, torna-se um homem profissionalmente frustrado e que passa a “culpar”, a tudo e a todos (menos a ele próprio!), pelas suas infelicidades.

Socialmente, o homem que não interioriza é apenas uma casca, é sem conteúdo, é vazio, é raso, é máscara, é aparência. Busca a felicidade nas coisas de fora, no que é exterior, e como a procura no lugar errado, nunca a acha. E se frustra. E se entristece. E se deprime. E culpa “o destino, que não lhe foi suficientemente generoso”.

Na família, o homem que não interioriza é ensimesmado. É capaz de passar horas navegando na Internet, lendo a revista Veja ou assistindo ao telejornal, sem notar que a esposa ou os filhos estão sozinhos na sala, carentes de atenção, de afeto, de amor. E novamente, chegam as desculpas: “Estou cansado, passei o dia todo trabalhando, preciso de um minuto de sossego!...”.

Espiritualmente, o homem que não interioriza é aquele que declara ser de determinada religião, mas sempre adiciona, logo em seguida, o termo “não praticante”. Sendo fraco, instável e preguiçoso no trabalho, socialmente e na família, não poderia ser diferente nas coisas de Deus. Assim, torna-se arrogante, cínico e orgulhoso perante o Criador. E, novamente, se vale de várias desculpas para se justificar, normalmente culpando “a Igreja, que seria antiquada por não aceitar o casamento gay, o divórcio e o aborto”; ou culpando “o padre que lhe sugeriu educar seus instintos ao invés de recorrer desregradamente à camisinha”; ou ainda “o pastor, que seria apenas um mercenário em busca do dinheiro dos iludidos fiéis”.

Daí a importância do relacionamento INTRApessoal! É só na reflexão mais íntima que cada um busca o real sentido da sua vida. E é só interiorizando que se educa a vontade para ser fiel não somente aos propósitos mais profundos – aqueles que dão sentido à vida - como também para agir segundo seu querer.

A vontade pode ser definida como a capacidade de fazer algo, antecipando conseqüências e sendo capaz de adiar uma recompensa. “Quero muito trocar de carro, mas minha prioridade é economizar para dar entrada num apartamento”. “Quero emagrecer e sou capaz de abrir mão de uma pizza ou de uma sobremesa”. Por mais que eu seja bombardeado por estímulos diversos, eu me coloco em movimento para alcançar uma meta. Vontade é essa perseverança que cresce diante dos desafios. É ter preguiça de ir à academia, mas insistir. É a tenacidade conquistada por nunca se deixar vencer pelos obstáculos. É saber o que se quer, aprendendo a disciplinar as necessidades.

Assim, maduro (e realizado, e feliz) é o profissional que não somente busca conhecer e desenvolver habilidades técnicas; é o pai e marido que não somente procura proporcionar bens materiais à sua família; é o filho de Deus que não somente procura comparecer (de corpo) às celebrações religiosas para simplesmente cumprir com uma tradição. Maduro, antes de qualquer coisa, é o homem que dedica tempo ao seu desenvolvimento interior.

"Conhece-te a ti mesmo!", dizia o filósofo. Só assim é que conseguiremos, de fato, assumir o controle das nossas vidas.

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