sábado, 4 de dezembro de 2010

Redes neutras? (uma reflexão...)


Pense comigo: a construção de redes de fibra óptica demanda consideráveis investimentos por parte das empresas provedoras de infraestrutura de banda larga. Assim, por que motivo essas empresas deveriam ser impedidas de cobrar, de acordo com o que o mercado está disposto a pagar para trafegar seus conteúdos?

Ora, se há quem deseje que conteúdos sejam entregues de forma mais rápida e segura, há quem queira pagar mais por isso. Mas se não houver a possibilidade de um serviço diferenciado, ninguém irá querer pagar mais, pela mesma coisa! Essa é uma lei de mercado que, a meu ver, configura-se como justa e racional.

Talvez isso ainda não esteja, no entanto, muito claro no mundo virtual. Então, pensemos no mundo físico, que as pessoas conhecem mais e onde essas leis são exatamente as mesmas:

Vamos supor que, de uma hora para outra, os Correios fossem proibidos (por alguma lei ou regulamento) de cobrar mais para entregarem certas encomendas mais rapidamente do que outras. Assim, por exemplo, não haveria mais o "Sedex-10", sendo que toda a remessa passaria a ser feita na categoria "Simples", normal, que é bem mais lenta e mais insegura. Isso seria um absurdo, não é mesmo?

Sim, seria! Principalmente considerando que os Correios investiram muito, ao longo dos anos, na construção de um sistema de logística e transporte com capacidade para fazer atendimentos diferenciados. E os Correios devem ter (e de fato é assim!) todo o direito de cobrar de acordo com aquilo que o mercado pode pagar para transportar uma encomenda em consonância com a qualidade com que o mercado escolher!


Com relação aos Correios, ninguém tem dificuldade de entender um tratamento diferenciado, para o qual se cobra mais. E no mundo físico há muitos exemplos iguais a esse, que são perfeitamente compreendidos e muito bem aceitos pelo mercado. Na verdade, os usuários querem ter a opção de escolher entre diferentes tipos de serviços, de acordo com a suas necessidades.

Então, por que motivo há tamanha dificuldade quando passamos a tratar do mundo virtual? Por que tanta confusão quanto ao entendimento da neutralidade das redes de banda larga? O conceito é absolutamente o mesmo!

Só há uma reposta que explique isso: o interesse particular de alguns.

Quem advoga a neutralidade das redes são aqueles que não vendem canais! Eles não investiram maciçamente na construção das redes (necessárias para o transporte de conteúdos).

Os defensores da neutralidade gastaram quantias significativas na produção dos conteúdos. Deste modo, é óbvio que eles desejam que seus bits sejam transportados da forma mais barata possível (assim como aqueles que estão no ramo de livros querem que esses sejam transportados pelos Correios da forma mais barata possível). Portanto, o que ocorre é que cada um está olhando para o seu próprio interesse econômico.

A análise da neutralidade deve ser tão simples quanto a que estou fazendo aqui. E veja: não há nada de errado com o fato de cada um estar olhando para o seu interesse econômico, pois todo empresário faz a mesma coisa!

Como conclusão, portanto, entendo que a questão da neutralidade das redes não deve ser levada para o lado moral ou da justiça, como tem sido feito. Vimos aqui que não tem nada disso! Quem leva para esse lado, o faz simplesmente para, erroneamente, induzir as pessoas a pensarem assim, levando-as a defender uma causa que elas, de fato, não compreendem totalmente.

Em resumo: a questão é absolutamente econômica!





Um comentário:

Anônimo disse...

Marcos,

Concordo muito com voce. E tento entender os que defendem a tal neutralidade. Parece que se apegam a palavra "neutralidade" e a defedem com filosofia do "todos somos iguais", mas sem uma analise mais profunda. Acredito que o termo "neutralidade" e o ser "contra a neutralidade" traz esse tipo de confusão.
Wagner