terça-feira, 1 de julho de 2008

ATLETIBA

Um garoto, com cerca de dez anos de idade, todo triste porque assistira ao jogo do Atlético Paranaense contra o Coritiba e teve que amargar a derrota do Coxa, depara-se com seu pai que estava muito brabo porque o menino não havia avisado onde iria estar.

–“Sua mãe está desesperada em casa, por não saber onde você está!”, grita o pai.

Ao que o menino rebate, dizendo:

- “Mas eu avisei a mamãe...”.

E o pai, como se estivesse diante de um adulto, berrava que era pura mentira e perguntava onde o garoto tinha aprendido a mentir daquele jeito. O menino era, a cada momento, mais ameaçado pelo pai que insistia em dizer que, ao chegarem em casa, o garoto iria apanhar muito. Logo em seguida, passam pela frente de uma lanchonete, onde havia um grupo de meninos amigos do garoto, e o pai se aproveita da situação e começa a bater na cabeça do menino dizendo:

- “Já vou começar a espancar você desde já para que seus amigos vejam e para que você se envergonhe mais!”.

O menino, a essa altura, já chorava muito...

Naquele momento, tive uma sensação de total impotência, e fiquei pensando: será que o menino poderia ter mesmo o mal hábito de mentir, sendo que ali o pai já estava agindo “na gota d’água”?

Mas a cena se intensificava, e minhas considerações racionais foram sendo substituídas pelo meu sentimento de enorme angústia. Aquele pai já estava, de forma muito covarde, confrontando-se de modo extremamente agressivo com alguém (que era uma “pessoa”, antes de ser seu filho). E com uma pessoa que não tinha poder e a força para se defender. Pensei em interferir, mas eles rapidamente entraram em uma casa e fecharam o portão. Fiquei então imaginando a tortura que aquela criança iria passar com os pais, naqueles próximos instantes. Continuei caminhando, entrei então em minha casa e estou, agora, postando neste blog.

A verdade cruel é que muitos pais estão agredindo seus filhos. Certamente, a maior violência na sociedade está guardada em segredo, no seio familiar; e nossa violência pública, penso eu, é apenas um resultado do problema que começa na família. Ofereço a seguir, para reflexão, alguns exemplos sobre isso:

Quando uma mãe, que ascendeu profissionalmente, “tem que ficar” durante o final de semana cuidando de seus filhos (a contragosto), não vendo a hora de a segunda-feira chegue para reencontrar-se com seu “sucesso profissional” (a convivência com os filhos a deixa angustiada e com a sensação de invalidez!), ela certamente está agredindo as crianças, de forma direta ou indireta.

Quando um pai, ao terminar seu serviço na empresa, faz de tudo para inventar “o que fazer a mais”, com o pensamento de que se chegar em casa muito cedo poderá “ter que brincar” com seus filhos, ele também está agredindo as crianças.

Quando gerentes de empresas, passam serviços e mais serviços a seus empregados, e até inventam viagens e mais viagens para estes funcionários, eles estão colaborando para que muitos pais se distanciem de seus filhos. Gerentes deste tipo estão, sem dúvida alguma, promovendo a violência doméstica, ao sobrecarregarem (e escravizarem) os seus funcionários.

Quando pais contratam babás para que eles freqüentemente passem noitadas festivas durante os finais de semana, e então no domingo ficam exaustos e se quer conseguem ter tempo para os filhos, estão sem dúvida alguma criando um ambiente propício à violência doméstica.

Quando pais deixam uma criança ou um adolescente passar todo o final de semana grudado no computador ou na TV, estão expondo aos filhos à trama emocional da mídia de consumo, e, conseqüentemente, também são promotores da violência doméstica.

Quando pais delegam toda educação de seus filhos às escolas, estão propiciando algum tipo de desajuste grave no seio familiar, pois está constatado que ambientes de descaso e de pouca presença afetiva dos pais, acaba gerando situações traumáticas em toda a família.

(Quem sabe podem ter sido esses alguns exemplos do que era o ambiente familiar, no caso da menina Isabella?)

Temos progredido muito no

desenvolvimento científico e tecnológico;

mas as vezes, nas relações humanas mais básicas...


2 comentários:

Unknown disse...

É realmente lamentável presenciar uma cena dessas e poder afirmar cada vez mais o que os posts desse blog alertam incansavelmente:
" Temos progredido muito no

desenvolvimento científico e tecnológico;

mas as vezes, nas relações humanas mais básicas... "

Jefferson Dieckmann disse...

Esse é um fato que, infelizmente, tem se tornado cada vez mais comum. Ao passo em que a tecnologia avança, tornando nossas vidas mais confortáveis, rápidas e cômodas, as relações humanas estão se perdendo. É imensamente mais fácil interagir com um computador que suportar as dúvidas, os pedidos e a vontade de conversar de um filho. É mais um sinal desses tempos "modernos".